Muito além do Procurador: aprenda a motivar as carreiras de apoio da Procuradoria
Publicado na década de 60, mas ainda extremamente atual, o livro O lado humano nas organizações, de Douglas McGregor, defende que gestores devem organizar os recursos de uma empresa para que os resultados sejam atingidos.
Na obra, o economista estadunidense sustenta que as pessoas compõem um desses principais capitais. Trazendo o debate para o universo das Procuradorias, surge o questionamento: como é possível motivar as carreiras de apoio da Procuradoria compostas por advogados e estagiários?
Antes de abordar especificamente o cenário da advocacia pública, é preciso pontuar alguns aspectos da administração pública como um todo. Infelizmente, existem pouquíssimos estudos que abordam a motivação entre os servidores públicos. Isso faz com que sejam reforçados alguns estereótipos das carreiras de apoio da Procuradoria, como o de que a classe é cercada de “regalias”, não gosta de trabalhar ou só está ali por estabilidade ou salário.
Por isso, a primeira missão de um Procurador interessado em motivar seus subordinados é derrubar o tabu relacionado à cultura organizacional do serviço público no Brasil. Em resumo, é preciso que Procuradores que cumprem a função de gestores abandonem e combatam a “Teoria X” e ainda adotem e incentivem a “Teoria Y” a respeito dos servidores que compõem as carreiras de apoio da procuradoria. As duas visões foram conceituadas por McGregor. A primeira delas enxerga os funcionários como pessoas somente interessadas no dinheiro. Já a segunda vê os colaboradores como pessoas que gostam de trabalhar e que se comprometem com os objetivos traçados pela organização.
Gestão estratégica
Por falta de maturidade de gestão, já que não raro há a predominância das indicações políticas no preenchimento de cargos, é comum que a “Teoria X” ainda tenha espaço nas empresas, principalmente nas públicas, como nas Procuradorias. Os resultados são servidores públicos desmotivados a partir de uma gestão contraditória, que faz com que eles esqueçam do propósito de estar na res publica (coisa pública ou coisa do povo): servir às pessoas. Tal propósito, tão procurado na sociedade contemporânea, deve ser reforçado constantemente por meio de incentivo.
Por mais que pareça faltar tempo, a gestão de pessoas em uma Procuradoria é imprescindível. Afinal, o nível de satisfação no trabalho está diretamente ligado à produtividade — tão importante nesses espaços, onde o volume de trabalho é enorme. Não há, contudo, uma fórmula pronta, até porque um ciclo motivacional pode ser definido como uma sequência de eventos que contemplam desde uma carência até a sua resolução, retornando para um estado de equilíbrio, conforme definiu um artigo da revista científica ADMpg Gestão Estratégica. O mesmo texto também indica que pessoas têm diferentes motivações e que essas mesmas motivações podem variar ao longo dos anos.
O que existem são recomendações que podem ser aplicadas e monitoradas frequentemente por gestores.
Veja 4 dicas para motivar as carreiras de apoio da Procuradoria:
Delegue funções e responsabilidades
É comum que servidores públicos que não estejam ligados à gestão sejam bastante dependentes de seus líderes. São pessoas que esperam uma orientação a todo o momento para saber o que devem ou não fazer. Esse é um problema porque, para além de um serviço moroso, funcionários pouco autônomos estão longe de se sentir motivados. É preciso que as pessoas tenham a noção de que são responsáveis e importantes naquilo que executam.
Tendo em vista essa realidade, que é acentuada no funcionalismo público, é importante que os Procuradores atentem com frequência para o ato de delegar responsabilidades às carreiras que os apoiam. Essa não é uma atividade muito difícil, já que as funções acumulam-se em razão da falta de efetivo. Sendo assim, procure contar mais com os profissionais que o circundam de forma sistematizada.
Reconheça as potencialidades
Ainda que parte dos profissionais que compõem as carreiras de apoio das Procuradorias tenha passado por um concurso público, essas mesmas pessoas necessitam de uma validação posterior a respeito de suas habilidades para que se motivem. É aí que entra o Procurador capaz de fazer bom uso das técnicas de gestão de pessoas. É preciso valorizar o potencial de cada servidor e, para isso, também é fundamental conhecê-los a fundo.
Depois de reconhecer as habilidades de cada profissional, é interessante fazer o cruzamento de tarefas versus habilidades. Sempre vai haver alguém melhor no peticionamento quando comparado à higienização de listas e cadastros, por exemplo. Então, cabe ao gestor identificar tais pré-disposições. Além da motivação, esse tipo de postura dá mais qualidade ao trabalho na repartição pública.
Desenvolva as incompetências
Por outro lado, as fragilidades de cada profissional também devem ser identificadas e, na sequência, desenvolvidas. Para isso, tente estabelecer um plano de desenvolvimento individual. E, nessa missão, lembre-se de que você não está sozinho: a motivação é uma corresponsabilidade de cada um.
Além de elaborar atividades capazes de melhorar as incompetências, é importante monitorá-las com frequência. Outra postura que pode ser adotada é a de oferecer cursos às equipes, sejam eles pagos ou gratuitos. O importante é estimular o desenvolvimento pessoal e, inclusive, colocar à disposição uma fração da jornada de trabalho para isso.
Avalie a concessão de benefícios para as carreiras de apoio da Procuradoria
Para além dos fatores intrínsecos mencionados acima, a motivação das carreiras de apoio da Procuradoria depende de fatores externos. É o caso de ambientes de trabalho com equipamentos suficientes e confortáveis (mesas, cadeiras, telefones, computadores, livros etc.), por exemplo. Ainda que esse não seja o cenário em todas as Procuradorias espalhadas pelo país. Nesses casos, é importante que a categoria se una a fim de cobrar melhorias nos órgãos competentes. Começando pela Corregedoria e pela Administração Pública a que respondem.
Estudo de caso
Para comprovar essa necessidade de estrutura básica, um estudo de caso envolvendo a Secretaria Municipal de Saúde de Otacílio Costa (SC) apontou que 80% dos servidores acreditam que o local de trabalho influencia na qualidade das atividades desempenhadas diariamente. A mesma pesquisa também revelou que os funcionários públicos poderiam sentir-se mais motivados caso a remuneração dos cargos fosse aumentada, se fosse disponibilizado um plano de saúde, se houvesse maior valorização profissional e mais agilidade nos atendimentos.
No âmbito das Procuradorias, alguns desses aspectos (os de formação de carreira) devem estar amparados por uma Lei Orgânica. Também vale avaliar a concessão de benefícios a fim de motivar estagiários e advogados. Flexibilização das jornadas de trabalho e possibilidade de home office são exemplos que podem ser aplicados à rotina de alguns servidores. A adoção de soluções tecnológicas de gestão para Procuradorias também pode melhorar a satisfação, já que as funções repetitivas são automatizadas, o retrabalho é eliminado e as equipes podem voltar-se a atividades mais estratégicas.
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Caso você, Procurador, tenha se interessado pela gestão de pessoas no funcionalismo público, não deixe de procurar capacitação. Dessa forma, é possível se desenvolver e melhorar o trabalho e a imagem da Administração Pública e das Procuradorias. Escreva na área dos comentários a sua dúvida ou sugestão sobre as carreiras de apoio da Procuradoria. Também não se esqueça de assinar a newsletter do InSAJ para receber conteúdo atualizado.